Novo governo, nova investida. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações informa que está avaliando um pedido apresentado pela associação de fabricantes de televisores para a “a retirada da obrigatoriedade da instalação do software Ginga na conversão do sinal digital para a TV”.
Segundo relata matéria do jornal Folha de S. Paulo, desta sexta-feira, 09/09, a Eletros lamenta o preço adicional nos televisores, que calcula da ordem de R$ 50 por unidade, e pede para que o Ginga – tecnologia 100% nacional – passe a ser opcional. Até porque, as principais fabricantes – Samsung e LG têm sistemas operacionais próprios para interatividade. Segundo o MCTIC, “as secretarias relacionadas ao tema estão analisando o documento para tomar uma decisão sobre o assunto”.
Bem resumidamente, o Ginga é um sistema que ‘traduz’ programações interativas de maneira que rodem em qualquer equipamento. E ao servir também como interface, está em lugar privilegiado para virar uma espécie de app store brasileira.
A inclusão desse software só é obrigatória para os televisores fabricados no Brasil que recebam os incentivos fiscais da Lei de Informática. Na prática, é o caso de todos os aparelhos feitos no país. Entrou em vigor em 2013 (75%) e desde então garante os benefícios tributários se 90% da produção incluir o Ginga.
A estimativa é que essa política tenha resultado em cerca de 40 milhões de aparelhos de TV em uso no Brasil aptos a receber conteúdos interativos. Mas o custo deve mesmo revoltar os fabricantes. Afinal, R$ 50 é o mesmo que a SejaDigital paga por conversores que rodam o Ginga C, versão muito mais robusta do software. O PPB de televisores não exige mais que o Ginga A.
Ainda segundo o MCTIC, “não houve qualquer alteração na política da televisão digital no Brasil que se baseia em três funcionalidade: mobilidade, alta definição e interatividade.”
10 anos de Ginga
O pedido da Eletros de ‘matar’ o Ginga nas TVs chega um ano depois a morte do principal idealizador do software de interatividade: o professor Luiz Fernando Soares, da PUC/Rio, considerado o ‘pai’ do Ginga.
No ano passado, fez uma década que o Ginga – então ainda chamado de Maestro – foi proposto ao Sistema Brasileiro de TV Digital. A criação do middleware foi uma parceria do Laboratório de Telemídia, do Departamento de Informática da PUC-RJ, coordenado por LF, e Guido Lemos, do Núcleo de Extensão em Aplicações de Vídeo Digital (Lavid) da UFPB.
Mais do que um avanço tecnológico desenvolvido no Brasil, o Ginga é uma ferramenta superior aos padrões de TV Digital adotados na Europa e nos Estados Unidos no campo da interatividade – com recursos que sequer existem por lá, como a sincronização de diferentes mídias ou a facilidade de o conteúdo ser acessado pela televisão, tablet, smartphone e isso ser gerenciado pelo provedor.
Logo após a morte do professor Luiz Fernando Soares, foi criado o Instituto Ginga para consolidar os avanços da tecnologia. O responsável pelo projeto, professor Sérgio Colcher, coordenador do evento e professor do Laboratório TeleMídia, ligado ao Departamento de Informática do CTC/PUC-Rio, à época foi taxativo ao falar do diferencial do software brasileiro. “Ele é software livre. Todo mundo pode desenvolver com o Ginga. Foi, aliás, esse diferencial que fez a UIT reconhecer a tecnologia como padrão mundial para o IPTV”, mencionou.
Fonte: Convergência Digital