mar 27

Um mês depois do governo brasileiro ter defnido o incentivo à interatividade no PPB para televisores digitais, a indústria de receptores, com a conivência dos radiodifusores, que pouco têm feito em relação ao desenvolvimento de aplicações interativas, já trabalha no âmbito do Fórum SBTVD para tornar o módulo Ginga-J do middleware Ginga opcional, também no Brasil para os dispositivos DTVi.

A próxima reunião do Fórum SBTVD promete grandes emoções. Principalmente depois da posição da Argentina definir o uso da implementação Ginga.ar, da LIFIA, como padrão em uma licitação para aquisição de milhares de conversores a serem distribuídos pelo governo para a população de baixa renda do pais.

Algumas empresas brasileiras manifestaram preocupação de a licitação estar, de fato, criando uma reserva de mercado na Argentina para o middleware criado no pais, a partir da implementação de referência do módulo Ginga-NCL da PUC-Rio. Há quem diga que o Ginga-ar sequer segue o padrão definido pelo Brasil para o módulo Ginga-NCL.

A polêmica em torno do Ginga.ar teve dois desdobramentos. Uma carta aberta assinada pelos responsáveis pelo desenvolvimento do middleware na PUC-Rio e no LIFIA (imagem no fim deste texto) e a discussão a respeito da harmonização das normas de TV Digital na última reunião do Fórum Internacional ISDB-T, que realizada semana passada em Quito, no Equador.

A ausência da delegação Argentina no encontro chamou a atenção. A proposta brasileira é a de que todas as implementações do middleware sejam compatíveis entre si, de forma a gerar escala para a indústria de conversores e para o desenvolvimento e troca de conteúdo e aplicações. Sem a presença de delegação argentina, os países membros do Fórum optaram por adiar a decisão. O problema, é que a próxima reunião do Fórum Internacional está marcada para Marco de 2013. Até lá, a indústria brasileira tem tempo de sobra para trabalhar pelo adiamento da obrigatoriedade do Ginga no PPB e para tornar o módulo Ginga-J opcional.

É bom que trabalhe também por harmonizar o módulo Ginga-NCL em todas as implementações já disponíveis no mercado brasileiro e na implementação argentina, que já começa a exportar conversores para a Venezuela. O Governo Chávez vai comprar 300 mil conversores digitais e 13 estações DTT da Argentina. O acordo é avaliado em US$ 51 milhões.

O argumento dos que se preocupam com o crescimento de mercado do Ginga.ar a universidade argentina beneficiou-se do financiamento brasileiro para a pesquisa em NCL e, sem gastar quase nada, apropriou-se da tecnologia, criando um “fork” NCL-BR e NCL-AR. É preciso que ele esteja 100% em conformidade com as normas definidas pela ABNT e pela ITU para que os esforços de harmonização não se percam.

O Ginga-NCL é uma especificação. Ela deve ser “única”, mas dela podem sair várias implementações. Exemplos: ASTROTV (da TOTVS), Middleware MOPA (da MOPA), Ginga.ar (do LIFIA-Argentina), além de outras sem nome específico, como a implementação da NOKIA e da EITV.

Absolutamente “todas” as implementações acima originaram da implementação de referência da PUC-Rio. Algumas delas optaram também por ser de código aberto, como a implementação da Nokia e o Ginga.ar.

Para quem defende o Ginga.ar, ao abrir um edital para compra de conversores como o middleware o governo argentino agiu como uma empresa qualquer. Por exemplo, a Sony escolheu o ASTROTV, a Toshiba o middleware da Mopa, o governo da argentina, após uma análise de várias empresas, e em um segundo edital, escolheu o Ginga.ar. No primeiro, ainda na época da Copa do Mundo da África, o middleware escolhido foi um brasileiro.

Segundo a carta assinada pelo professor Luiz Fernando Soares, da PUC-Rio, o Ginga.ar é uma implementação Ginga-NCL seguindo as Normas ISDB. Mas muitos dizem que o middleware não está conforme. O temor é o de que a solução Argentina, que optou somente pelo Ginga-NCL, seja também a solução em outros países. Para muitos fabricantes, e também para a academia _ e isso é público e notório, _ sem o modulo Ginga-J a implementação do Ginga fica “muito mais” democrática.

O problema não é o Java em si, mas o fato de não haver concorrência hoje na implementação Ginga-J., a da Totvs. E o fato de, por conta dos direitos da Oracle (que comprou a SUN, detentora da propriedade intelectual sobre a máquina virtual Java – Orcale JVM) , cedidos para o Fórum Brasileiro, o modulo Ginga-J não poder ter uma implementação em código aberto que não possa ser distribuída, como acontece com o Ginga-NCL., embora nem todos na indústria nutram simpatia pela ideia de uso de código aberto. Do ponto de vista do desenvolvedor de conteúdos os defensores do módulo NCL dizem que, sem dúvida, é muito mais fácil de usar por não especialistas, e isso torna o desenvolvimento de aplicações mais democrático.

Nesse ponto, a comunidade Java argumenta que ele democratiza o desenvolvimento de aplicações, por conta da grande comunidade de desenvolvedores, comparada à comunidade Lua.
Mas até esse argumento é refutado pelos defensores de Ginga-NCL. Segundo ele, a grande comunidade de desenvolvedores Java é para computação genérica. Muito poucos sabem sobre as bibliotecas específicas para TV.

Por conta disso, a Oracle deve promover um Workshop em São Paulo para apontar as vantagens da adoção do Ginga-J e esclarecer dúvidas em relação à cobrança de royalties.

A Oracle tem uma parceria com a TQTVD para disponibilizar para os desenvolvedores a ferramenta de desenvolvimento AstroBox, totalmente baseada no padrão de TV Digital brasileiro para facilitar seu trabalho. Essa ferramenta é oferecida associada à máquina virtual Oracle – Oracle JVM – e, segundo a empresa, abre infinitas possibilidades de criação de aplicativos para relacionamento com o público.

Até aqui, apenas da TV Globo optou pelo uso do Java no desenvolvimento de suas aplicações interativas. Mas até ela, como emissora, não tem investido muito esforço na ampliação da quantidade de aplicações hoje no ar.

Declaração assinada entre Brasil e Argentina

Fonte: IDGNOW

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