maio 28

A partirdo ano que vem, 90% dos televisores produzidos na Zona Franca de Manaus deverão incluir o Ginga, plataforma de interatividade do sistema brasileiro de TV digital. Mas essa obrigatoriedade, por si só, não garante o sucesso do sistema, dizem especialistas ouvidos pela Folha. Para boa parte deles, o Ginga tem sido subutilizado, e seu futuro está na mão das emissoras de TV.

“As emissoras estão utilizando o Ginga e produzindo para ele”, afirma Valdecir Becker, professor da Faap e da Anhembi Morumbi com experiência em pesquisa para TV digital. Mas o conteúdo atual é simples demais em relação ao que a tecnologia oferece, limitando-se basicamente a “informações complementares à programação, como tabelas, fotos, sinopses e enquetes, nada muito complexo”.

“Se você perguntar às emissoras, elas vão dizer que são Ginga desde criancinha”, diz um dos criadores da plataforma, Luiz Fernando Gomes Soares, da PUC-Rio. “Mas o que vemos é pouco investimento no desenvolvimento de aplicativos.” O futuro do Ginga, afirma, “dependerá muito da postura dos radiodifusores”.

Segundo o consultor Aguinaldo Boquimpani, que participou da normatização do sistema, os canais de TV “não têm ideia, por exemplo, de que poderia haver aplicações Ginga similares ao Netflix, ao Now da Net ou ao Muu da Globosat”. “O principal obstáculo para o sucesso da plataforma é o não engajamento das emissoras”, diz ele, e uma divulgação maior poderia incentivar “empresas de marketing, publicidade e serviços a buscar o potencial do sistema e desenvolver soluções criativas”.

“Essa divulgação tem que vir do próprio radiodifusor”, diz Flávio Lenz, assessor da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações. Ele acredita que o mercado em torno do Ginga evoluirá, levando ao surgimento de “killer apps” (“aplicativos matadores”, termo usado para se referir a apps de grande apelo e sucesso). “É natural que o começo seja um pouco tímido.”

SEGUNDA TELA

Becker não é tão otimista. Ele acredita que o uso do Ginga pelas emissoras crescerá, mas de uma maneira limitada. “Há outras tecnologias muito melhores para a interatividade, mais acessíveis e fáceis de usar. [O Ginga] era uma ferramenta de ponta em 2007. (…) Hoje continua muito similar, com poucas novidades incorporadas à norma. Isso o torna um pouco obsoleto frente aos smartphones, aos tablets e aos computadores.” Para Becker, “a interatividade está acontecendo de fato via segunda tela”, ou seja, por meio de dispositivos móveis.

“O Ginga tem [suporte a] segunda tela desde 2007”, defende Soares. “A segunda tela que está aí não é sincronizada, é a pior possível. Com o Ginga você consegue fazer muito mais.”

É nisso que aposta a Totvs, que tem investido em soluções compatíveis com a plataforma. David Britto, diretor de TV digital da empresa, acredita que é com a segunda tela que “o Ginga vai ganhar popularidade”.

Boquimpani vê a plataforma como “uma das soluções possíveis” para a integração da TV com a segunda tela, mas reforça o papel dos radiodifusores: “A materialização desse potencial (…) depende do engajamento das emissoras de TV”.

Becker acha que o investimento não vale a pena. “O que se pensou para a segunda tela com o Ginga ficou muito defasado comparado com os aplicativos desenvolvidos recentemente.”

“Eu apoiaria uma revisão para modernizar o sistema”, diz Eduardo Brandini, vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, que tem investido separadamente no Ginga e em aplicações para a segunda tela. “Hoje o telespectador que quer interação [com a TV] já está com outra tela na mão, e a experiência dele é melhor com essa segunda tela.” A TV Cultura acredita no Ginga, afirma o executivo, mas o sistema precisa evoluir.

Mais contido, o diretor-geral de engenharia da TV Globo, Fernando Bittencourt, diz que a emissora “está atenta às novas possibilidades de interatividade com o Ginga e com a segunda tela” e que incentiva a TV digital como plataforma de interação.

Fonte: Folha

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